terça-feira, 13 de abril de 2010

Girassol

Aula de química, ligação isso, ligação aquilo, íons, "formoso piriquito do bico de pato com ácido ídrico não me meto" e minha mente teimando em fugir,as palavras íam se aglomerando, se organizando naturalmente na minha frente, pintando a figura engraçada do meu professor de letras, minha caligrafia, linhas de um caderno imaginário. E quando estava quase tudo organizado, eu puxava o pé dessa Flor que teimava em sair da aula de química e além de tentar constituir seu texto ali mesmo, queria que os minutos voassem. Estava completamente fissurada com a ideia de chegar em casa e pousar a caneta na última página do caderno de hipopótamo. Tornar tudo aquilo mais real, concreto e com sentido.
Era algo relacionado a um coração que se partiu em cacos de vidro, mas cacos com as mais diversas cores, como se um vitral fosse quebrado por algum moleque travesso que possuísse uma das mais poderosas armas quando falamos em vitrais: uma espécie de brinquedo, em forma de esfera, símbolo do gen a mais que nós brasileiros portamos, o amor ou habilidade no futebol. O que na minha opinião, passa a ser muito clichê e o clichê pouco me interessa.
Eu queria as cores do vitral de um casarão antigo que eu sempre sonhei morar. Aquelas escadarias, as florezinhas tímidas que crescem ao lado, um ar de melancolia que chega a puxar a poltrona para que você se acomode: confortável.
Mas a pressa para chegar em casa e escrever foi interrompida. Convite irrecusável do meu girassol com aquela voz doce que eu teimo em imitar com um pouco de ironia, só pra irritá-la. Sentar na praça para conversar. Sentar não, que muitas coisas são melhores na horizontal. Coisas como observar o início tímido a noite, com as poucas estrelas a brilhar no céu, rodeadas por aquele verde, aquelas mangueiras.
Veja bem, é um carinho imensurável que eu tenho por essa menina com seus cachinhos louros, com corte ousado e atitude tal qual, lembrando Marilyn Monroe. Razão e sentimento em medida exata, para que uma equilibre a outra. E sintonia completa. Ainda me surpreendo com o quanto ela me conhece e vice-versa. Eu quase me esqueço de que a Marilyn Monroe de hoje, que é difícil que eu consiga passar um dia longe, foi, há dois anos, a menina anti-social que não conversava com ninguém e se escondia atrás dos livros.

Helen implorou pra eu postar esse texto porque se trata dela, alegando que o Natal já passou há muito. Ela diz que sou muito convicta no que quero, mas tenho duvidado disso. Principalmente nos últimos dias, pelo seu poder de não me deixar estudar, me levar para a pracinha após nove horas de aula e me fazer postar o que ela queria :)

2 comentários:

  1. Seria arrogância lhe responder com a minha certeza. isso por que a certeza só pertence a mim e forçar-te enxergá-la, ainda que com palavras doces, disfarçadas, é ser irracional. Então eu contornaria a situação dizendo que ninguém é aleatório por que cada um é cada um, mas ainda assim seria mentira por que não foi isso o que me chamou a atenção. Se julgamento fosse ciência eu teria toda razão, mas não, portanto, sim, intuição! Confuso, né? tentei simplificar, mas não deu!

    Digamos que lendo suas palavras eu sinta o cheiro das suas flores. Que no meio dessas linhas eu as percebo camufladas pela essência que exalam... Que voou pólen lá no meu jardim e eu quis saber de onde que veio!

    De onde cê vem? Para onde cê vai?

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  2. Necessidade de definição. Sou assim mesmo. Resolução do universo ao meu redor. No entanto isso é quase imperceptível por que guardo tais opiniões para mim.
    Interrogações incontidas, exclamações espontaneas -e em voz alta, exaltadas!- tudo isso vem acontecendo constantemente comigo.
    Perdoe-me pela possível inconveniência.

    Daí de Angra você deve ir para a Bahia. Ou uma viagem pela América do Sul? Oeste? Seguindo ao encontro do berço do Sol?
    Passa por Minas?

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