quarta-feira, 28 de abril de 2010

Com amor para uma querida amiga

"Morena flor
Tem todas as cores numa só
Tem todos os cheiros sua fragrância
E todos teus movimentos uma perfeita dança

Sorri morena flor
Deixe que outros olhos vejam sua essência
Tu és tão doce em tua cândida consciência
Tu és tão viva em tua tão pouca vida
Ser flor ao teu lado é ser segundos tantos mais feliz

Agora digas ó morena flor
Que todas as intempéries tu suportas
Que tens escondido em ti mil passos de carinho
Mil beijos queridos
Mil amores recebidos
E tantos segredos perdidos

Flor morena, morena flor, flor...
Não é justo sentir mais dor
Deixe que eu te diga com toda certeza de miúdas letras de amor
é a mais querida desse jardim que se chama vida"


Minha poetisa predileta, minha amiga mais próxima, a quem eu quero tão bem.
E se algumas vezes eu te incomodo desvendando a lógica por trás das tuas ações e emoções antes mesmo de se manifestarem, eu peço desculpas.
Porque o meu lado árvore, maternal e afetuoso não quer ver seu girassol sofrer.

terça-feira, 27 de abril de 2010

Morfeu.

- Doutor Rafael?
- Pois não?
- Há uma pessoa aqui que gostaria de falar com o senhor pessoalmente.
- Mas, quem seria? Não foi marcado nada previamente, você bem sabe das minhas regras, Maria.
- Não é um cliente, doutor...
- E quem mais seria?
Três batidas firmes na porta o assustaram, ainda concentrado no telefonema. E posteriormente, ouviu-se o ranger da maçaneta.
Cinco segundos. O bastante para revirar suas últimas negociações, alguma dívida pendente ou algo do passado que viesse a lhe atormentar.
No sexto, a figura apresentou-se.
- Bom dia, doutor. Desculpe-me a audácia, trata-se de algo urgente.
- E poderia ao menos apresentar-se?
- Morfeu.
O médico duvidou da sanidade daquele ser vestido em terno marrom desbotado, com a gola da blusa levemente levantada. A pasta de couro que carregava
apresentada sinais de que fora castigada pelo tempo - tempo demais.
- Meu senhor, eu terei de chamar os seguranças. Se isso é algum tipo de pegadinha ou quem sabe um...
Vendas prestas sobre seus olhos, escuridão. Sempre fora fã da mesma, nunca deixava uma fresta se quer de claridade pronunciar-se na solidão e no
silêncio de seu quarto escuro. Isso seria inadmissível.
Mas aquele escuro era perturbador, tateava o ar, a procura de algo. Parecia uma criança ávida por capturar uma borboleta, que por sua vez, almejava mais do que o moleque, a sua própria liberdade.
Estava tonto, confuso e sentia cheiro de mofo e urina misturados. O estômago vazio reclamou dessa combinação aromática. Tateou com desespero seus olhos, a procura da tal venda, como desatá-la. Mas, para sua surpresa, nada havia.
Levantou-se, a cabeça parecia pesar mais do que poderia suportar em condições normais, quanto mais nas condições em que se encontrava.
Sentou-se sobre a cama e estabilizou-se. Arrastou-se até o meio do quarto, o piso de tábua corrida rangia a medida que seus pés se movimentavam,
quase que involuntáriamente. Tateou tudo quanto lhe havia pela frente: o nada. Desesperado, passou a ouvir passos ao longe, com a aproximação,
percebeu que se enganara. Não eram passos, era um trote. Cada vez mais próximo ao local - seja qual for - no qual estava.
Sentiu uma brisa quente passar por sua nuca e depois, uma mão em seu ombro. Mas nada havia, nada havia.
Bufadas vindas de longe, de não tão longe, de próximo, de perto, ao lado. Caiu, repentinamente, de costas.
Abriu os olhos e na cabeceira uma esfera, com barbantes embaralhados simétricamente, sementes e penas nas laterais e na base da circunferência.
Um pegador de sonhos.

domingo, 25 de abril de 2010

Algo-feira.

Você acordou de mau-humor, sabia desde o instante em que colocou os pés pra fora do colchão que havia algo errado.
- Olha, eu não posso interromper a aula para esse tipo de coisa não. Hoje é uma exceção, telefonema pra você na secretaria.
Pensou consigo: Minha mãe é abusada, ligaria pro celular e pela lei gênica, eu atenderia em meio à aula. Quem poderia ser?
Ouviu soluços, voz baixa, escondendo o choro. Explicou-se e mais: pediu desculpas.
- Não fica assim...
- Não, eu tô bem.. eu só tenho que ir pra lá agora.
Abaixou ainda mais o tom de voz, os soluços aumentaram.
- Vai em paz, não se preocupa comigo, força. Te ligo pra saber como está.
Se puniu pelo "Não fica assim..." Aliás, como não ficar assim?
O telefone bateu no gancho, a dor no coração.
As lágrimas desceram durante a aula de História. Sorte a dela, Bartolomeu estendeu-lhe a mão e a conduziu até a porta com as seguintes palavras:
"Vá até ao banheiro e limpe essas lágrimas, pode ficar por quanto tempo quiser, eu me responsabilizo. Volte quando estiver bem."
Ela vai sentir falta daquele que viu nela a Flor. Lista de chamada:
- Helen Neumaister
- Presente
- Florzinha
- Aqui (com sorriso nos lábios)
- Ieda Soares...
Vazio, solidão, eu sei que você só queria sentar ao sol e aproveitar os vinte minutos chorando sozinha a sua dor pela dor alheia ouvindo Kings of Convenience.
A dor de uma terceira chamou-te, guarda tua tristeza pra mais tarde. Agora é ela quem precisa de ti.
Você guardou, tão bem escondido que encontrou dificuldade em reencontrar.
Recreio da parte da manhã, horário de almoço, recreio da parte da tarde, pós-aula: tudo dedicado a secar as lágrimas dela e analisar os fatos e tentar organizá-los pra quem se encontrava tão perdida.
Isso te conseme. Você cuida de todo mundo, mesmo quando não pedem. Quem cuida de você?
Deitou-se sozinha. Almejava companhia. Almejava abraço, abraço na horizontal.

sábado, 17 de abril de 2010

Relógio da vida

Então ela entrou pela porta bruscamente, como quem carrega o peso do mundo em suas costas e deseja aliviá-lo.
E de fato, carregava. Só não sabia como descarregá-lo. É como segurar uma granada e o simples fato de tê-la em suas mãos lhe corrói a alma, dói viver. Mas, por outro lado, ao fazer com que ela vá pra longe de ti, a certeza de que afetaria muitos outros - e, com intensidade maior.
Uma tremedeira lhe percorria o corpo, desde os pés, desorientados até às mãos, descoordenadas, incapazes. Sua cabeça sofria os efeitos da passagem de um tornado em sua vida: Ela sabia, passasse o tempo que fosse, nunca mais seria a mesma.
Ainda com os movimentos impossibilitados, dirigiu-se ao banheiro. A bolsa tira-colo foi para um lado, o vestido longo bordado para o outro. Sentou-se num canto e abraçou suas pernas. Movimentava-se num ritmo constante, para frente e para trás. O queixo apoiado nos joelhos, joelhos marcados por cicatrizes que ele mesmo ajudara a fazer.
Entretanto, nenhuma lágrima se quer descia pelo rosto pálido da menina. A situação, a emoção, a alma, pedia urgentemente por aquelas águas que banham a face e levam consigo um pouquinho da dor, elas, porém, se negavam a presenciar o tal momento.
Decidiu-se então que outras águas levariam embora aquele sentimento, abriu o chuveiro, água quente descia pelo ralo. Entrou naquela cascata sem pestanejar. A calcinha ficou, mas era tão pequena que se tornava quase imperceptível. Achou o chão quando esse "quase" se intensificou.
O relógio corria numa velocidade implacável e o tempo passava, impiedoso por ela.
- Tic-tac, tic-tac, lhe dizia o relógio.
E o coração respondia: "tum-tum, tum-tum."
Tic-tac, tic-tac- tic-tac, tum-tum, tum-tum, tic-tac, tic-tac, tic-tac, tum-tum, tic-tac, tic-tac....

terça-feira, 13 de abril de 2010

Girassol

Aula de química, ligação isso, ligação aquilo, íons, "formoso piriquito do bico de pato com ácido ídrico não me meto" e minha mente teimando em fugir,as palavras íam se aglomerando, se organizando naturalmente na minha frente, pintando a figura engraçada do meu professor de letras, minha caligrafia, linhas de um caderno imaginário. E quando estava quase tudo organizado, eu puxava o pé dessa Flor que teimava em sair da aula de química e além de tentar constituir seu texto ali mesmo, queria que os minutos voassem. Estava completamente fissurada com a ideia de chegar em casa e pousar a caneta na última página do caderno de hipopótamo. Tornar tudo aquilo mais real, concreto e com sentido.
Era algo relacionado a um coração que se partiu em cacos de vidro, mas cacos com as mais diversas cores, como se um vitral fosse quebrado por algum moleque travesso que possuísse uma das mais poderosas armas quando falamos em vitrais: uma espécie de brinquedo, em forma de esfera, símbolo do gen a mais que nós brasileiros portamos, o amor ou habilidade no futebol. O que na minha opinião, passa a ser muito clichê e o clichê pouco me interessa.
Eu queria as cores do vitral de um casarão antigo que eu sempre sonhei morar. Aquelas escadarias, as florezinhas tímidas que crescem ao lado, um ar de melancolia que chega a puxar a poltrona para que você se acomode: confortável.
Mas a pressa para chegar em casa e escrever foi interrompida. Convite irrecusável do meu girassol com aquela voz doce que eu teimo em imitar com um pouco de ironia, só pra irritá-la. Sentar na praça para conversar. Sentar não, que muitas coisas são melhores na horizontal. Coisas como observar o início tímido a noite, com as poucas estrelas a brilhar no céu, rodeadas por aquele verde, aquelas mangueiras.
Veja bem, é um carinho imensurável que eu tenho por essa menina com seus cachinhos louros, com corte ousado e atitude tal qual, lembrando Marilyn Monroe. Razão e sentimento em medida exata, para que uma equilibre a outra. E sintonia completa. Ainda me surpreendo com o quanto ela me conhece e vice-versa. Eu quase me esqueço de que a Marilyn Monroe de hoje, que é difícil que eu consiga passar um dia longe, foi, há dois anos, a menina anti-social que não conversava com ninguém e se escondia atrás dos livros.

Helen implorou pra eu postar esse texto porque se trata dela, alegando que o Natal já passou há muito. Ela diz que sou muito convicta no que quero, mas tenho duvidado disso. Principalmente nos últimos dias, pelo seu poder de não me deixar estudar, me levar para a pracinha após nove horas de aula e me fazer postar o que ela queria :)

Eu odeio Natal.

Saiu de casa a contra gosto, porque tem gente que acha que o seu avô estará mais seguro com ela quando voltar da sua boa ação que nos últimos anos se tornou rotina, levar a família de seu filho para casa.
Ela nem presta atenção nos carros, nem sabe o quê estão fazendo ali. Afinal, é Natal. Seu olhar distraído foi imediatamente atraído para outra coisa: as pessoas na rua.
Começou por reparar nos jovens que deixavam suas casas animados e começavam o "esquenta" no portão do outro amigo mesmo pra Festa de Natal na boate nova que abriu em Três Rios. Como estão felizes, sorriso na mão, copo na boca.
Depois notou um casal já de idade se escondendo na escuridão que envolve as lojas, que cansadas pelo dia agitado, provocado pelo bom brasileiro - aquele que deixa tudo pra em cima da hora - adormecem tranquilas a não ser pelo estalo dos beijos apaixonados. Intrigante. Ao despachar as malas, pensou: "metade do dever cumprido. Mal sabem eles que nem presto atenção no que deveria". Melhor assim, só ela e ele, alguns Moreiras se entendem, mesmo no silêncio.
Ao manobrar, uma senhora e seu filho lavando e varrendo sua calçada. E mais adiante, no Cemitério, uma família pousa seus olhos tristes nos dela, curiosos. Como seria passar o Natal no velório de um amigo querido, um irmão ou pai? Ela viu o caixão, as velas ao lado queimavam, serenas. Sem pressa de ver a manhã chegar.
Voltando, duas meninas arrumadas. Uma para e pede que a outra a espere. Está passando gloss labial no trilho do trem. Ela nunca passou gloss labial no trilho do trem na noite de Natal.
Olhou pro guarda sentado numa cadeira de plástico no portão da casa que serve pra alguma coisa que o prefeito alega ser "investimento na área de saúde". Tentou se infiltrar no pensamento dele, saber se estava zangado por estar ali. Ele a impediu quando de imediato, levantou-se da cadeira e virou-se de costas para eles.
Uma menina sentada na varanda falando baixinho ao celular. Do carro, ela disse: saudade de quem, flor? saudade de quem? O coração grita, a voz cala.
- Pronto, chegamos.
- Guarda o carro que deixo o portão aberto pra ti.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

A gaveta

As cartas de amor, os poemas e as músicas que se destinam a mulheres, ou ao menos a descrevê-las, são tão lineares e clichês.
E eu, que não sou nem um nem outro fico me questionando com a cabeça cuidadosamente encaixada entre as almofadas e debaixo de um obstáculo que faz sombra em mim quantas pessoas já olharam de baixo de uma gaveta.
Eu estou apenas a espera, daquele que vai me perguntar se eu já tomei banho deitada, se já bebi algo de cabeça pra baixo ou o que é o medo, que todos dizem sentir, mas que não o afeta. Aquele da oitava série, que eu usava num discurso decorado.
Esse mesmo, com os dreads, sem um puto no bolso, me levando pra Bahia e me chamando de "pretinha".
Eu não sei se eu quero me sentir segura agora. Ou mais perdida do que nunca. Talvez a segunda opção. Queria cabeça nas nuvens, calcanhares nos lençóis freáticos e cosquinha...

terça-feira, 6 de abril de 2010

Te amo, te amo, te amo e te amo. Sem porque nem pra quê. Aliás, quem eu tento enganar? Sejamos siceros, te amo porque me escapas logo após uma louca declaração de amor que mais parece uma intimação: diga que me amas. E logo me estremeço toda feito criança, achando que se eu admitir, você vai rir de mim, sair correndo pelo pátio e contar pra todo mundo da classe que eu era apaixonada por você. Indecifrável, completamente.
E te amo pra poder dizer que é esse o motivo da minha insônia, é esse o motivo de eu não seguir em frente e parar de responder alguns e-mails e até as adoráveis mensagens no celular que antes de você aparecer, eram prontamente respondidas.
E às vezes amo tanto que chego a odiar. Odeio o fato de você estar certo quando diz (ou melhor, digita) com a cara de maior cafajeste do mundo: admite logo que tá morrendo de saudade de mim, que não vê a hora de me encontrar e dar continuidade ao que começamos. Admite que me ama, que não vive sem mim.
E eu vivo, todo mês depois de resolver te excluir completamente da minha vida e te fazer sumir, eu consigo passar bem. Mas você sempre volta, pra depois me escapar pelas mãos feito areia. Volta a princípio inofensivo e meu coração teima em dizer: calma, você já superou. Mas basta reaparecer pra virar essa coisa desenfreável que me tira as noites sono que já não existiam.