terça-feira, 13 de abril de 2010

Eu odeio Natal.

Saiu de casa a contra gosto, porque tem gente que acha que o seu avô estará mais seguro com ela quando voltar da sua boa ação que nos últimos anos se tornou rotina, levar a família de seu filho para casa.
Ela nem presta atenção nos carros, nem sabe o quê estão fazendo ali. Afinal, é Natal. Seu olhar distraído foi imediatamente atraído para outra coisa: as pessoas na rua.
Começou por reparar nos jovens que deixavam suas casas animados e começavam o "esquenta" no portão do outro amigo mesmo pra Festa de Natal na boate nova que abriu em Três Rios. Como estão felizes, sorriso na mão, copo na boca.
Depois notou um casal já de idade se escondendo na escuridão que envolve as lojas, que cansadas pelo dia agitado, provocado pelo bom brasileiro - aquele que deixa tudo pra em cima da hora - adormecem tranquilas a não ser pelo estalo dos beijos apaixonados. Intrigante. Ao despachar as malas, pensou: "metade do dever cumprido. Mal sabem eles que nem presto atenção no que deveria". Melhor assim, só ela e ele, alguns Moreiras se entendem, mesmo no silêncio.
Ao manobrar, uma senhora e seu filho lavando e varrendo sua calçada. E mais adiante, no Cemitério, uma família pousa seus olhos tristes nos dela, curiosos. Como seria passar o Natal no velório de um amigo querido, um irmão ou pai? Ela viu o caixão, as velas ao lado queimavam, serenas. Sem pressa de ver a manhã chegar.
Voltando, duas meninas arrumadas. Uma para e pede que a outra a espere. Está passando gloss labial no trilho do trem. Ela nunca passou gloss labial no trilho do trem na noite de Natal.
Olhou pro guarda sentado numa cadeira de plástico no portão da casa que serve pra alguma coisa que o prefeito alega ser "investimento na área de saúde". Tentou se infiltrar no pensamento dele, saber se estava zangado por estar ali. Ele a impediu quando de imediato, levantou-se da cadeira e virou-se de costas para eles.
Uma menina sentada na varanda falando baixinho ao celular. Do carro, ela disse: saudade de quem, flor? saudade de quem? O coração grita, a voz cala.
- Pronto, chegamos.
- Guarda o carro que deixo o portão aberto pra ti.

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