segunda-feira, 24 de maio de 2010

Do telejornal habitual, fez-se programa cultural.
Do dinheiro do picolé, fez-se dinheiro da cerveja.
Da tristeza, fez-se samba.
E eu sambei.

domingo, 16 de maio de 2010

Quinze horas.

A pele alva, que esquivou-se com competência do impiedoso Senhor do Tempo escondia a verdade que ela trazia nos bolsos. Seus documentos, acusavam, cúmplices de seus olhos sábios e atentos, anos que ninguém jamais imaginara.
Tais olhos focavam atentos os ponteiros de seu relógio de pulso, antiga herança de família. O momento se aproximava conforme o tic-tac nervoso acompanhava os passos daqueles cheios de pressa em meio à uma multidão desforme de outros tantos olhos que por sua vez, traziam consigo melancolia.
Sentada em um dos bancos da Estação Central, ela ostentava a inteligência misteriosa de um lobo camuflada pelas mechas de cabelo presas de forma descuidada, formando um emaranhado que além de convidativo, beirava a perfeição.
Dez metros de distância dali ele observava apoiado a uma pilastra. Bela, íntegra. Nunca conhecera mulher de tamanha deeterminação. Buscou na bolsa a tira colo com a rapidez e agilidade de um assassino profissional a sua arma. Os olhos nem ao menos se moveram para lugar algum que não fosse a presa.
Instantaneamente, sacou sua Nikon e pôs-se a fotografar aquela que representava, completamente, seus devaneios.
Era, sem dúvidas, a exposição de sentimentos crus mais verdadeira que um ser-humano poderia assumir.

terça-feira, 4 de maio de 2010

Café da manhã

Eu quis dizer tantas coisas, mas elas preferiram ficar escondidas embaixo do lençol.
Você levantou cedo, fez poucos ruídos e partiu.
Eu te prometi o café, o pão, o queijo.
Mas você levantou cedo.
Eu quis que a minha mão encontrasse a tua durante a noite.
Mas dormiste tão encolhida que mal pude chegar perto de ti.
O coração que parecia estar não mão, estava a quilômetros de distância.
Ainda assim, você levantou cedo, fez poucos ruídos e partiu.
A respiração batia quente no meu pescoço, quase doía.
Carregava consigo a dor que tens dentro dos pulmões já consumidos pelos maços de cigarro.
A tua veia pulmonar carregando essa dor até o coração, dor aguda.
Ali ela grita.
E você levantou cedo, fez poucos ruídos e partiu.
Eu tinha uma lista de ideias e promessas.
Você se adiantou e disse que coisas planejadas nunca funcionam.
Ficamos eu, o café, o pão, o queijo.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

"Toca Baião"

Dos seus passos, amores e abraços, só ela sabe.
Prezada solidão, eu não admito atrasos, tampouco explicações.
Um, dois, três. Dominós à postos, o princípio e o final, o final e o princípio.
Quem define? Senhor do Tempo, quem define?
Olha, guarda essas mágoas pra mais tarde, guarda tudo numa fina gaveta com uma chave prateada, passo aí mais tarde para apanhá-la.
Eu não queria ser rude, eu apenas não sabia fingir fidelidade.
Eu era fã da verdade e quanto mais dolorida fosse, melhor. Assim, com as palavras mais objetivas e mais maldosas, sempre achei que isso tornava a verdade ainda mais verdade.
Mas você bem sabe, a solidão sempre esteve presente.
Hoje eu já não tenho mais tanta pressa, tanta ganância e necessidade de papel sem amassados.
Agora eu me permito fingir por um instantes que eu não sou tão bruta, que eu não sou tão fria e que tenho algum sentimento.
O meu amor não existe, o meu amor está perdido por aí.
Mas, quer saber? Eu não ligo.
O labirinto, o dominó e o dragão um dia tem que vir à tona.