quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Ruínas intactas

No dia em que demoliram aquela pequena casa que se encontrava no alto do morro, a Cidade parou.
Não se tratava somente de uma casa. Ela tinha sim seus atrativos, que não necessariamente cabiam como elogios à mesma.
A leve inclinação para esquerda só se fazia notar por aqueles que tinham algum entendimento sobre o assunto, o marrom desbotado dos tijolos que moldavam seu corpo traziam consigo um certo ar de melancolia. E as janelas, majestosas, passavam a impressão de que algum dia já haviam presenciado algum espetáculo recheado de sorrisos.
Era singela a tal da moradia. E há tempos não se tinha notícia de alguém que se dispusesse a ocupar aquele espaço - que não era pequeno - com as dores de uma vida só.
Porém, a Cidade não se esquecera de Sebastião, que lá perdurou até seu último sopro de vida se esvair.
Para alguns, aquele senhor de pele escura contrastante com os poucos fios brancos de barba que lhe restam, era apenas um homem que foi assaltado pelo tempo e perdeu seu encanto, seus amores, seus próximos e consequentemente parte de sua identidade.
Apenas Miguel, o proprietário da padaria da pequena Cidade sabia e guardava os motivos daquele homem carrancudo.
E eram os motivos de um semelhante, o qual não fazia questão de ser compreendido, que levavam Miguel se levantar religiosamente às cinco e levar adiante essa grande brincadeira a qual chamam de vida.

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