sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Rua 15 de novembro, nº 203

Me entregaram um manuscrito, com um nome completo, seguido de algumas intruções.
Deram-me também uma senha e um meio para contato.
Saí de lá perplexa, nas mãos, aquelas folhas que pareciam amassadas propositalmente, no coração dor tamanha.
Um estranho esbarrou-me com força enquanto meus olhos fitavam um poste adiante. Virei-me e ele me olhava como se estivesse a captar detalhes para desenhar-me. Desconfortável, continuei a andar.
Espiei o relógio com um pouco de receio de que alguém pudesse estar me vigiando e reparando que naquele simples ato, havia desespero, uma multidão de pensamentos que engoliam a minha alma, mas não a incorporava. Deixando-a só, solta, séria.
Apressei os passos e ao atravessar a rua, por descuido, quase fui pega por um automóvel com pressa.
O som da buzina e do grito que veio a seguir foram os últimos que meu ouvido saboreou.
Atônita, parei. São cinco, mas se lhe falta um, é como se todos os outros tivessem ido embora juntos. Me certifiquei de que não fosse engano meu. Uma consequência da pressão imoral que a ansiedade exercia em mim.
Infelizmente, não. Resisti em continuar, afinal, como poderia?
Mas algo me puxava, a razão, não sei. Algo insistia para que eu colocasse pé ante pé e mesmo sem escutar os barulhos que os sapatos faziam ao encontrar o chão, focar no que havia de ser feito.
Mais alguns e logo adiante uma esquina. Contornei-a agora num ritmo mais lento, atenta.
E ali estava, quase que de braços abertos a me esperar.

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