sábado, 22 de janeiro de 2011


Queria abrir aquela garrafinha e entrar naquele mundo.
Saboreando de pouquinho a pouquinho as gotas dispersas de forma aleatória no gargalo dela. Queria molhar meus pés nelas e ir seguindo, admirando as cores refletidas tão de leve, tão de mansinho.
Olhei pra trás, continuei a admirar e, de supetão, escorreguei.
Aquele vidro, tão liso, sem saliência alguma, toda paciência, eficiência em ser simplesmente o que deveria e nada mais. Eu parei um tempo pra pensar. Quanta sinceridade aquele vidro carregava! E quanto peso, quanta responsabilidade.
Olhei pra fora, aquela cor só me fazia me sentir mais e mais adentro da garrafa. Escura, mal revelava o que quer que poderia estar depois daquela fina camada que me separava de tanto.
Uma músiquinha calma começou a tocar, me recuperei do tompo, me recuperei dos pensamentos.
Levantei-me, ri um pouco do descuido, achei bonito aquilo. Charmosa distração.
Ensaiei alguns passos, com cuidado, claro, no ritmo daquela baladinha triste que levava meu Coração consigo. E por mais lenta que fosse, o Coração desgarrou e foi na frente, rápido demais para que eu pudesse alcançá-lo e recuperá-lo. Ainda no meu campo de visão, deixei-o partir. Ao menos alguém ali era corajoso o suficiente pra ir em frente e não somente a frente.
A frente eu sempre fui. Ou ao menos sempre fingi muito bem pra mim mesma que ía. E as pessoas acreditavam fielmente. Acho que as aulas de teatro sempre me ajudaram muito.
O cheiro começou a ficar cada vez mais forte e me tomou por completo Fiquei zonza por alguns segundos.
Mas eu precisava tragar uns goles daquele líquido, mesmo.

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