domingo, 7 de março de 2010

Sem Título

E os olhos perderam seu brilho.
Aceitando o seu legado, o seu dever.
Era a dor quem batera a sua porta,
Certamente não iria embora sem mais delongas.
Dissera ficar para um cafézinho.
E tardara enfim, para o jantar.

Acolheu então aquele sentimento, como
crianças acolhem fantasmas, temerosas
às suas reações perante algum sinal de medo ou recusa.
Deixou assim estar, largada num canto da sala, escondida
demais para se fazer presente a cada segundo, a mostra
demais para ser esquecida.

Carregou-a, modelou-a a seu gosto.
Não é, pois, o que todos deveriam aprender?
Flexionar, reflexionar, duplicar e juntar.
Ao seu modo, ao seu dispor.
A dor é de sua posse.
Porque não fazer dela o que quiser?

Alguns chamam de teimosia, outros de força.
Qualquer que seja o nome, era isso que a acompanhava.
E era definitivamente por tal fato que não era permitido total controle
sobre a dor.
Restaram um tanto de orgulho, meia xícara talvez e mais outro
tanto de rispidez.
Era como um doente carrancudo, machucado não pela enfermidade,
mas sim pelo tempo.

E com ele, transformara-se exatamente nessa pesonagem caótica.
Estava então, impedida de clamar, pois a velhice chega, até para os sentimentos.
Mas hábil a reclamar, fato automáticamente incluído à aqueles que já viveram por certo tempo.

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